Um sábado soalheiro, como outro qualquer…

Não sei se escreverei muito mais sobre este assunto. E se o vier a fazer será, com certeza, para falar de coisas positivas que poderão acontecer entretanto. Gosto de trazer histórias positivas, divertidas, contos que nos façam esquecer por momentos toda esta loucura que vivemos nestes dias. Contudo, tinha de escrever sobre isto pelo menos uma vez, colocar em palavras algumas coisas que penso, algumas preocupações, partilhá-las para assim poder sentir que o peso delas é partilhado.

Para ler e, sobretudo, pensar!

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Photo by 🇨🇭 Claudio Schwarz | @purzlbaum on Unsplash

São 16 horas. E até ao momento poucos foram os momentos que não estive presa a um qualquer meio de comunicação. Sinto que tenho a vida em suspenso presa às notícias, aos boatos, ao diz que diz. Quero muito ser informada sobre tudo e sobre todos os pormenores. Quero saber quantos são os casos confirmados de coronavírus. Quero saber quantos casos são suspeitos e quantos estão em vigilância. Quero saber como estamos a reagir, enquanto povo, quais as regras emanadas pelo governo, quero saber, saber, saber! E para isso procuro ouvir notícias o dia inteiro. Televisão, rádio, jornais online…passo os olhos e os ouvidos por tudo. A juntar a toda essa informação (ou à procura de informação) assumo que ainda “varro” as redes sociais, lendo aqui e ali os pedidos que se vão espalhando, solicitando às famílias para se manterem em casa, as muitas técnicas apresentadas às famílias para ajudá-las a passar o tempo em casa com os seus rebentos mais novos e procurando perceber que estabelecimentos se mantêm abertos aqui na minha cidade. Contudo, bem no fundo, sei que não estou apenas e só a procurar manter-me informada. Sei que se tirar dez minutos a toda esta necessidade de me informar para me analisar, não será difícil entender que aquilo que procuro, de facto, é ouvir uma boa notícia. Procuro ouvir que o aumento de casos não está a ser tão vertiginoso quanto se esperava. Procuro ouvir que temos alguns casos confirmados mas nenhum deles é extremamente preocupante. Quero, acima de tudo ouvir falar daqueles casos que recuperaram (ao que parece, dois neste momento), casos que passaram por este vírus “feio e desagradável” e estão perfeitamente recuperados para nos contar a história.

 Sei bem que as notícias não podem ser as melhores mas procuro-as incessantemente à espera de encontrar, no meio de todas esta informação que nos deixa a cada dia mais alarmados, algo que nos vá mimando a esperança e nos dê coragem.

Mas, bem no fundo, sei que quero algo que dificilmente vou encontrar. E não estou pura e simplesmente a ser negativa. Estou apenas a constatar que somos portugueses e que por isso levamos sempre imenso tempo a tomar consciência da gravidade das situações e uma eternidade para tomar qualquer decisão mais drástica!

Vejamos. Há quanto tempo se exigia o fecho das escolas? Contudo, a opinião da nossa cara Ministra da saúde é de que não existiam razões para as fechar! Ouvimos uns, ouvimos outros e lá se tomou a decisão de fechar as escolas. Mas só no dia 16 de março. Assim como assim, o vírus há-de compreender que gerimos a nossa vida por semanas e que a semana de trabalho só acaba à 6ª feira! O educado senhor vírus também não haveria de ser tão desagradável que aparecesse nalguma escola a uma sexta-feira 13, então! A isto junta-se a interpretação enviesada das regras ditadas pelo governo (em muito ajudadas pelos discurso sempre tão desconexo do Ministro da Educação). Em que ficamos? Afinal todos os profissionais da educação cumprem isolamento social ou não? Na segunda-feira veremos qual a situação em que estamos: professores e funcionários!

Decidida esta medida, entre outras, poderíamos pensar que finalmente estávamos no caminho dos países que veem este vírus com receio e respeito. Desenganem-se! Continuamos a brincar. Continuamos a enviar umas medidas avulso que não entendo que bem possam fazer. Fecham-se as escolas mas continuamos a tentar perceber quem vai ter de trabalhar presencialmente nas mesmas e quem não. Decidimos que algumas lojas irão abrir mais tarde e fechar mais cedo. O mesmo irá acontecer com super e hipermercados. (como se o vírus tivesse hora marcada para comparecer em certos locais!) O uso de máscaras na rua continua a ser obrigatório apenas para quem desconfia que possa estar infetado ou para quem esteve em contacto com alguém infetado. A sério?! Acham mesmo que ainda estamos nessa fase ou não obrigamos ao uso de máscara porque, pura e simplesmente, elas não existem no território nacional? Decretamos isolamento social, avisamos para sair à rua apenas para realizar o estritamente necessário, aconselham-nos a não nos reunirmos em grupos mas, pelo que mostram as imagens, o Cais do Sodré ontem esteve à pinha com jovens divertidíssimos com toda esta situação. Não iam limitar para um terço a lotação dos estabelecimentos? Ou isso também só começa segunda-feira? Será que acreditam que o fim-de-semana soalheiro que nos é apresentado é uma espécie de prémio antes de entrarmos todos em isolamento social? É isso que “o meu povo” entende? Até lá aproveitamos o sol e o calor?

Por fim termino com uma pergunta: para quando um controlo apertado e um encerramento das fronteiras? Não deveríamos ter começado por aí? Espanha é, neste momento, o segundo país europeu mais afetado por este coronavírus. Contudo, as minhas certezas são de que facilmente teremos umas boas centenas a visitar as nossas zonas fronteiriças, como tanto gostam de fazer nos fins-de-semana soalheiros. Tudo isto sem qualquer controlo!

Já não podemos questionar se este vírus é algo para ser tomado a sério. Os exemplos repetem-se: vimos o que aconteceu na China, vimos o está a acontecer em Itália, seguida de Espanha! Será que não podemos aprender com quem soube agir e tomar exemplo com os bons? Leia-se, Macau?

Há pouco vi um pequeno GIF que ilustrava muito bem o que poderá ser esta situação: uma família numa esplanada de uma qualquer serra, linda e cheia de neve. Todos estão calmamente observando a paisagem num clima ameno de um dia cheio de sol. Alguém diz, ainda calmamente, que parece que vem aí uma avalanche. Ninguém se levanta, ninguém se mexe. Alguém mais sábio chega a dizer “Nã…é só um pequeno deslize de neve!…” O GIF termina com uma avalanche a sério e todos a fugirem tentando salvar a vida… Penso que a imagem é bem clara…