Porque acreditamos no amor?

Porque hoje é Dia de S. Valentim uma crónica escrita em torno de uma questão: “Porque acreditamos no amor?”

Está aí um dia de S. Valentim, mais um dia dos namorados, mais um dia (e uma desculpa) para celebrar o amor. Tendo em conta os tempos que correm é inevitável não se me colocar uma questão: faz sentido, ainda celebrar esse dia? Ainda acreditamos no amor?

Convenhamos que os tempos que correm são mais de desamor do que de amor. Algum de nós ainda se espanta quando ouve dizer que mais um casal se separou? É algo de estranho para nós saber que se celebrou mais um divórcio? Claro que não!

A separação de casais é, nos nossos tempos, “o pão nosso de cada dia”. Começa a ser natural, quando vamos a um casamento e quando felicitamos os noivos, questionarmo-nos sobre quantos anos durará aquela união. E a verdade é que não são muitos aqueles que escapam às separações mais ou menos violentas. Uns terminam na paz porque sentem que o amor terminou, que a monotonia se instalou, outros terminaram de modo mais violento, entre mágoas e agressões (físicas e/ ou verbais). Acontece em todo o lado, em todas as famílias, em todos os estratos sociais. Ninguém parece escapar a essa onda de desamor: os gordos e os magros, os feios e os bonitos, os simpáticos e os antipáticos, os anónimos e os famosos…

Contudo, e apesar da situação que acabo de descrever (e que penso ser inegável) a verdade é que este dia continua a ser festejado tanto no nosso país como em vários sítios deste mundo. É claro que o aspeto comercial não será alheio a tudo isto. Nestes dias somos totalmente inundados por publicidades mais ou menos lamechas sobre a importância de celebrar a data mas, acima de tudo, publicidades sobre a melhor forma de o fazer. Portanto, não é de espantar que grande parte dos casais, mais ou menos românticos, opte por assinalar a data com um jantar a dois, com uma surpresa romântica e/ ou uma troca de prendas mais ou menos simbólica. Verdade que nada disso me deixa admirada.

O que ainda me consegue surpreender, de facto, é ainda termos tanta confiança no amor, tanta confiança nos relacionamentos. Todos nós, de uma forma mais pronunciada ou não, continuamos a procurar amar e a procurar o amor. Todos os que não têm parceiro, ainda que já tenham tido, continuam a acreditar que o amor existe e que está algures no mundo à nossa espera, quem nos fará sentir amados e totalmente preenchidos. E escusam de vir dizer que este pensamento é tendencialmente feminino porque não acredito em nada disto. Todos nós, de um modo mais ou menos pronunciado, acreditamos no amor e acreditamos que vamos encontrar aquela pessoa que nos fará felizes a 100%.

E a que se deve essa crença? Deve-se, quanto a mim, a dois aspetos fundamentais. Por um lado, toda a ideia que nos foi vendida, ao longo de muitos anos pelas diversas formas de arte, com destaque para a literatura e o cinema, sobre um amor romântico altamente idealizado: todos somos metades à procura da sua outra metade! Em todas as histórias a que assistimos é evidenciado um amor tão grande, puro e verdadeiro que só pode trazer felicidade eterna a quem o sente… O amor é o propósito maior da vida, aquele sentimento que nos fará sentir, por fim, completos e preenchidos. Vendem-nos a ideia de que a vida só fará sentido se encontrarmos o amor.

Por outro lado, e esta é a minha firme opinião, todos precisamos de acreditar que existe um sentimento tão puro e tão bonito. Face a um mundo tão rico em sentimentos menos nobres, a um mundo cada vez mais de frieza e solidão, necessitamos acreditar que existe um sentimento puro que afastará tudo o que de feio existe à nossa volta. Acreditar no amor é acreditar numa força maior do bem.

Há que assumi-lo sem receios: o amor, ou a ideia romântica que dele fazemos, é e continua a ser a força motriz deste mundo. Tudo continua a girar em torno desse sentimento estranho que procuramos encontrar. Todos, no fundo, acreditamos que existe uma alma que será a nossa metade perdida e que a podemos reencontrar em determinada pessoa, em determinado momento. E isso acontece porque precisamos de acreditar que esse sentimento nobre e profundo existe. E precisamos de acreditar que se não o encontrámos à primeira, ou à segunda tentativa, encontraremos na terceira ou na quarta. Apesar de todos os exemplos menos positivos que vamos encontrando pelo caminho, continuamos a acreditar que existe o conto de fadas e que um dia o iremos encontrar. E isso não tem nada de errado. Pelo contrário: é essa ideia que nos dá força para seguir em frente apesar dos exemplos negativos, dos momentos menos bons, dos desencantos e dos momentos em que desacreditamos. Como dizia o grande Leonard Cohen “o amor não tem cura, mas é a única cura para todos os males”.

Continuemos a acreditar no amor porque precisamos de acreditar nele, continuemos a celebrá-lo, no dia de S. Valentim e todos os dias. Afinal, ainda acreditamos que ele é a cura para todos os males!

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