“O circo sem animais é como uma ópera em playback”…

Foto de William Fitzgibbon na Unsplash

É inevitável! Entra o mês de dezembro, aproxima-se a época natalícia, e lá se lembram os canais portugueses de trazer o circo ao pequeno ecrã. Alguém que me explique, por favor, qual a ligação que encontram entre o circo e o Natal porque, eu, assim de repente, não encontro nenhuma…

Quero deixar bem claro, antes de continuar, que, não sou uma amante de circos (Abra-se honrosa exceção ao Cirque du Soleil). Não gosto de palhaços (aliás, acho-os sinistros) e acho a maior parte dos números dos artistas ligeiramente requentados, algo visto e revisto à exaustão. O Cirque du Soleil, de facto, traz-nos números novos e arriscados, em histórias bem contadas, com figurinos de sonho. Daí ser uma exceção e apresentar um sucesso que se tem mantido ao longo dos anos (no que me parece ser um caminho diferente da maior parte dos circos).

Mas, não gostando, não teria nada contra este espetáculo ser exibido todos os anos em canal aberto se a escolha do espetáculo de circo não recaísse, uma vez e outra, no Circo de Monte-Carlo. A grande festa do circo, como lhe chamam. É um facto que o Festival Internacional de Circo continua a trazer os melhores artistas circenses que existem por esse mundo fora e que, para os amantes do género, este será um dos espetáculos inesquecíveis. Mas, há que sublinhar que o grande circo de Monte-Carlo continua a apresentar animais nos seus números, em exibições que, por baixo de brilho e lantejoulas, mais não são do que sofrimento desnecessário para os animais. Não consigo entender como ainda não foi imposta a não utilização de animais em todo e qualquer circo em qualquer lugar desse mundo. Pior, quando questionada sobre o facto de o Circo de Monte-Carlo ainda apresentar números com animais, a princesa Stéphanie do Mónaco, presidente do Festival Internacional de Circo, aquele que se diz ser o maior evento circense do mundo, referiu que “O circo sem animais é como uma ópera em playback”…

Sou absolutamente contra o uso de animais em circos. Felizmente, a situação em Portugal tem progredido para aquela que é a situação ideal: circo sem animais. Ao que sei, apenas o Circo Cardinali (que também se instala no Passeio Marítimo de Algés na época de Natal) mantém animais nos seus números: cavalos e camelos. E até esse grande circo tem até 2025 para devolver a liberdade a estes animais. O fim dos “tristes espetáculos” com animais está perto. Que deixem estes animais viverem em santuários, que não sejam obrigados a, noite após noite, apresentar um espetáculo que os obriga, a maior parte das vezes, a realizar atividades que vão contra a sua própria natureza, que não sejam obrigados a viver sob as luzes ofuscantes, a conviver com o barulho, por vezes ensurdecedor, do público, parece-me o melhor presente de Natal que lhes possam oferecer.

Quanto ao grandioso Circo de Monte-Carlo? Este parece-me que vai levar mais tempo a adaptar-se a esta forma de pensar o circo. De acordo com o pensamento da Presidente do Festival Internacional de Circo, este espetáculo só faz sentido se continuar a explorar, de forma indecente e desumana, os animais que se tornaram estrelas de circo. Continuaremos a ver elefantes a serem obrigados a caminhar sobre duas patas, enquanto executam malabarismos, leões, que continuarão a enfrentar aros de fogo e a saltar por eles, cavalos a suportarem cinco ou seis artistas que cometem a proeza de se manterem de pé no seu dorso, enquanto ele cavalga, desalmadamente, por aquela pista (são essas as imagens, tristes, que guardo dos espetáculos de circo com animais…).

Nada podemos fazer contra o facto de o Circo de Monte-Carlo continuar a utilizar animais nos seus espetáculos. Isso é inegável. Mas podemos recusar-nos a aceitar que, todos os anos, passem em canal aberto este espetáculo triste, pontuado de sofrimento, ainda por cima, numa época de Natal.

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